sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Gentileza x Nostradamus

'Beijo em pé (como fez o Casillas)

Uma vez, almocei com duas amigas mineiras, ambas casadas há bastante tempo, veteranas em bodas de prata, e ainda bem felizes com seus respectivos. Falávamos das dificuldades e das alegrias dos relacionamentos longos. Até que uma delas fez uma observação curiosa. Disse ela que não tinha do que reclamar, porém sentia muita falta de beijo em pé. Como assim, "beijo em pé"? Depois de um tempo de convívio, explicou ela, o casal não troca mais um beijo apaixonado na cozinha, no corredor do apartamento, no meio de uma festa. É só bitoquinha quando chega em casa ou quando sai, mas beijo mesmo, “aquele”, acontece apenas quando deitados, ao dar início às preliminares. Beijo avulso, de repente, sem promessa de sexo, ou seja, um beijaço em pé, esquece. E rimos, claro, porque quem não se diverte perdeu a viagem. Faz tempo que aconteceu essa conversa, mas até hoje lembro da Lucia (autora da tese) quando vejo um casal se beijando na pista de um show, no saguão de um aeroporto ou na beira da praia. Penso: olha ali o famoso beijo em pé da Lucia. Não devem ser casados. Se forem, chegaram ontem da lua de mel.
Há quem considere o beijo – não o selinho, o beijo! – uma manifestação muito íntima e imprópria para lugares públicos. Depende, depende. Não há regras rígidas sobre o assunto, tudo é uma questão de adequação. Saindo de um restaurante, abraçados, caminhando na rua em direção ao carro, você abre a porta para sua esposa (sim, sua esposa há uns bons 20 anos) e taca-lhe um beijo antes que ela se acomode no assento. Por que não? Porque ela vai querer coisa e você está cansado. Ai, não me diga que estou lendo seus pensamentos. O beijo entre namorados, a qualquer momento do dia ou da noite, enquanto um lava a louça e o outro seca, por exemplo, é um ato de desejo instantâneo, uma afirmação do amor sem hora marcada. No entanto, o tempo passa, o casal se acomoda e o hábito cai no ridículo: imagina ficar se beijando assim, no mais, em plena segunda-feira, com tanto pepino pra resolver. Ninguém é mais criança.
Pode ser. Mas que gracinha de criança foi o goleiro Casillas ao interromper a entrevista da namorada e tacar-lhe um beijo sem aviso, um beijo emocionado, um beijo à vista do mundo, um beijo em pé. Naquele instante, suspiraram todas as garotas do planeta, e as nem tão garotas assim. E os homens se sentiram bem representados pela virilidade do campeão. Pois então: que repitam o gesto em casa, e não venham argumentar que não somos nenhuma Sara Carbonero. Isso não é desculpa'.

MEDEIROS, Martha

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Apesar de ser fã da Martha e visitar seu blog com certa frequência, confesso que não conhecia esse texto. Entre crianças, pizzas e comédias românticas adolescentes, uma amiga comentou sobre a pérola acima. Simples, corriqueira e franca. Tamanha a veracidade que chega a nos causar uma certa estranheza. Por que mesmo permitimos que isso aconteça com a gente tantas vezes? Há quem diga que são apenas detalhes diante de todo um universo da relação. Eu acredito que sejam coisas como essas (simples ou complexas - para alguns) é que são os verdadeiros alicerces de uma vida a dois. Sim, penso que pequenas surpresas e gestos singelos são os grandes responsáveis pelo bom andamento dos namoros ou casamentos. Apesar de parecer fácil, eis aí uma das grandes dificuldades para manter os dois devidamente envolvidos. É claro que o cotidiano corrido, as atribulações do trabalho e o stress do trânsito são perfeitamente capazes de tirar o bom humor (e um bocadinho do senso) de qualquer um. Basta imaginarmos o quão revigorante seria se recebêssemos um telefonema ou torpedinho de nosso (a) companheiro (a) durante o turbilhão de confusões ao longo do dia. Um simples "tenha um ótimo dia e obrigado por todos os outros em que estamos juntos" poderia fazer milagres por toda a semana. O afago espontâneo em meio as pequenas tarefas domésticas ou "O beijo roubado" entre um serão, feito por conta do trabalho levado pra casa, podem se transformar em troféus antecipados ao fim de cada saga do dia a dia. Parece que nos dias de hoje não apenas os gestos românticos ou as demonstrações públicas de afeto soam como ridículas, acho que em um relacionamento contemporâneo a gentileza também não está inclusa no pacote. É como tv por assinatura, para obter um ponto adicional o combo precisa ser plus. Certa vez, assistindo um programa na televisão, vi um cara ligado à música falar sobre o Suassuna e do quanto ele ficou atônito com a atitude do escritor. Segundo o rapaz, ele e sua equipe estavam voltando para São Paulo e/ ou Rio após uma turnê com o Suassuna, quando o autor perguntou ao moço sobre sua esposa Zélia (com quem é casado há mais de 50 anos), após caminhar com ela até hall do aeroporto e retornar para perguntar ao entrevistado "apenas" a seguinte frase : - Ela não é linda?
Uou! Caceta!!! De acordo com as previsões baseadas nos raios-x dos dias atuais, em menos de 50 anos um gesto como esse será mais raro do que ganhar na loteria. Logo, no século XXII, a chance de um relacionamento onde esses pequenos encantos não sucumbam no profundo mar do ceticismo será, então, a mesma que a de um possível novo alinhamento dos planetas do sistema solar: uma a cada um trillhão de anos.

--> para quem ainda não viu ou não se cansa de ver o sonho de consumo de todas as mulheres: Casillas Encantado



6 comentários:

  1. Nunca tinha pensado nisso! Rs.. e realmente isso acontece. Não por comodismo, mas por excesso de intimidade às vezes, né? Vou parar pra reparar todos agora. Hahahaha!


    Beijos lindona.

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  2. Sei que as vezes você não entende bem o que digo com relação a minha história. Se hoje ainda não abri mão - você sabe do que estou falando - é porque pequenos gestos, como chegar em casa e ter a frase "eu te amo" escrito com pétalas de rosa, me prendem de maneira gostosa, sem amarras...
    Agora é a sua vez de querer isso também!

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  3. Quero agora e pra sempre!Só falta o Altíssimo jogar esse cone de luz aí pra mim!!! :P

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  4. Boa tarde, Priscila!
    Um texto maravilhoso para aqueles que talvez, sei lá! Esqueceram o começo!
    Eu num bolg de uma seguidora e amiga, comntei sobre esse fato, no qual sua postagem aborda.
    Das diferenças que começam a ser geradas, das crises dos relacionamentos, muitas das vezes, de pessoas que ainda assim, se amam...
    Se as mesmas, não se esquecessem daquele começo gostoso, onde um simples olhar, a troca de gestos, até que se aproximaram, ficarm trêmulas, com aquela vontade de dizer algo,, mas que as vez, nem sai...
    Depois, se apaixonam e vira tudo um mar de rosas... Beijos e abraços em qualquer lugar, vontade de estar juntos a toda hora, troca de mensagens pelo cel, levar um café na cama, mandar rosas, e ainda afirmar, dizendo, eu te amo meu Amor.
    As pessoas se esquecem que, o começo foi que levo-as a admirar, gostar, se apaixonar e Amar...
    E isso, é uma das coisa que deveraim ser sempre cultivas, valorizdas todos os dias.
    Problemas todos nós teremos todos os dias, pois passamos a maior parte do dia, longe de quem amamos e, quando chegamos em casa, essa saudade, esse gostar e esse Amor, deveria ser usado com uma Terapia, para aliviar o stresse do dia a dia, para alimentar a alma de alegria e satisfação de estar ao lado de quem realmente Amamos.
    Lindo e maravilho os Texto de sua matéria..
    Um ótimo fim de semana par ti queida

    Bjs

    MARCIO rj

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  5. Adorei, Pri!

    Sempre adoro quando venho aqui, matar a saudade de vc! To carente disso! Do que diz no texto e de matar a saudade tb! rs

    Beijo, linda!

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  6. Beijo em pé é tudo de bom, valeu boc suja!

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