'Não vou a Ipanema,
Não gosto de chuva,
Nem gosto de sol’
.JOBIM, Tom
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Sim, antes de qualquer coisa, preciso deixar claro que estou longe de ser uma boa e típica carioca. É bem verdade que não faço muito, ou quase nenhum, esforço para atender os tais requisitos básicos para obter a legitimidade de ter nascido no Estado da Guanabara. Então: nada de sol, praia e afins (salvo aquelas que, ao invés de areia, têm piso e, no lugar da leve brisa, possuem ar condicionados bem distribuídos). Há quem diga que tenho lá alguma salvação, já que chuva também é algo que não me apetece muito... Preciso esclarecer que o descaso ganha uma amplitude infinitamente maior por conta de um objeto d-e-s-g-r-a-ç-a-d-o chamado guarda-chuva.
De acordo com a confiabilíssima Wikipédia , um guarda-chuva, chamado ainda de sombrinha, é um objeto usado para proteção contra chuvas e consiste em um aramado suportado por uma haste, que sustenta uma tela feita geralmente de material plástico. Da origem do guarda-chuva, os mais antigos que se conhecem foram da Mesopotâmia, há 3400 anos. Há 3.400 anos já existiam artefatos destinados a proteger a cabeça dos reis - contra o sol, não contra a chuva, uma raridade naquele lugar. Assim como os abanos, eram feitos de folhas de palmeiras, plumas e papiro. No Egito, adquiriram significado religioso e na Grécia e em Roma eram tidos como artigo exclusivamente feminino. Só no século XVIII a obstinação do comerciante inglês Jonas Hanway, um apaixonado por guarda-chuvas (versão inglesa do guarda-sol tropical), conseguiria torná-los dignos também de um gentleman. Embora ridicularizado em vida, após a sua morte, em 1786, os ingleses aceitaram sair à rua munidos do acessório nos sempre freqüentes dias de chuvas do país. Os guarda-chuvas, ao contrário dos guarda-sóis, tendem a ser fabricados com materiais leves a fim de que possam ser facilmente transportados, mesmo quando abertos. O tecido protetor é atualmente feito de diversos materiais impermeáveis.
Agora, vejamos: um objeto – inicialmente – feito com folhas de árvores, plumas e papiro; leve e facilmente transportável não pode ser nada eficaz para se proteger, ainda mais de chuva! E convenhamos, até os dias de hoje, merece (e muito) continuar sendo ridicularizado... Bem, eu apoio! Digam o que quiserem, mas estou convicta de que esse trambolho foi uma das invenções mais inúteis e equivocadas que um desocupado cheio de ideias desnecessárias já conseguiu criar.
Vamos aos pontos:
- guarda-chuva e vento, definitivamente, não combinam (quem discorda, por favor, diga como funciona)
- as pontinhas das hastes do guarda-chuva não são nada dinâmicas e, menos ainda, indolores (principalmente quando atingem os olhos)
- usuários de guarda-chuva que transitam com a tranqueira embaixo de marquises deveriam ser tratados como hereges e queimados na fogueira em praça pública (quem foi que disse que justamente ali, embaixo do concreto, vai chover? Tente convencer um ‘filho de uma mãe honrada’ do contrário, tente...)
- os pontos de ônibus ficam, ainda mais, insuportáveis com uma legião de monstros e suas armas letais contra a chuva (e todos os outros habitantes do planeta terra)
- quando você mais precisa ele sempre está furado, quebrado, envergado, quando não, esquecido em algum lugar impossível de lembrar.
Desabafos e esclarecimentos a parte, eu penso de verdade que, não sendo possível exterminá-lo de uma vez por todas; alguma providência séria e urgente precisa ser tomada. Por favor, fabricantes do mundo inteiro: insiram manuais ou guias de boas maneiras nos guarda-chuvas! E, se não for pedir muito, usuários modelos e aptos: ministrem cursos livres e práticos de como utilizar corretamente o apetrecho, para o bem de todos e felicidade geral da nação! Multas e advertências também são ótimas pedidas para evitar eventuais transtornos e desastres.