terça-feira, 27 de outubro de 2009

sonhos semeando o mundo real


'Eu gostaria de poder fazer o que eu sinto por trás da cortina da "loucura". Então, arrumaria flores, pintaria a dor, o amor e a ternura, eu ia rir demasiadamente com a estupidez dos outros, e todos me diriam: que pobre, está louca'

KAHLO, Frida





'Meu desejo é externar, com cores e formas o que não poderia com palavras, e também o grande prazer de pintar por pintar (...) Apesar de minha longa doença, sinto uma imensa alegria de viver'

KAHLO, Frida





'na saliva.
no papel.
no eclipse.
em todas as linhas,
em todas as cores,
em todos os jarros.
no meu peito. Fora. Dentro.
No tinteiro.
Nas dificuldades da escrita.
Na maravilha dos meus olhos
– nas últimas linhas do sol
(o sol não tem linhas), em Tudo (I).
Dizer tudo é imbecil e magnífico.
O DIEGO na minha urina
– o Diego na minha boca –
no meu Coração, na minha loucura,
no meu sonho – no mata-borrão –
na ponta da caneta
– Nos lápis – nas paisagens
– na comida – no metal
– na imaginação
Nas doenças – nas vitrinas
– Nas lapelas dele –
nos seus olhos – na sua boca.
Na sua mentira'.

KAHLO, Frida


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da menina:
que queria ter sorte
que queria ter filho
que queria ter arte
que queria ter sorriso
que queria ter amor
que queria ter pátria
que queria ter asas
que queria ter isso
que se transformou:
em mulher e em tudo aquilo
que uma outra menina queria...
...queria mesmo era ser Frida!






* para Eliza, pela oportunidade e companhia para ver bem de perto as verdadeiras e incomparáveis cores de Frida Kahlo

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

parada


Silêncio e preconceito em Duque de Caxias
Prefeito José Camilo Zito proíbe parada gay no município, provocando protestos dos ativistas. Secretário Municipal de Segurança Pública explica que organizadores não apresentaram documentação. Ministro Carlos Minc se revolta

Duque de Caxias - Em meio a plumas e paetês, silêncio e preconceito. O prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, não autorizou, ontem, a realização da 4ª edição da Parada da Diversidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) do município. Ele alegou ter “queixas do governo passado e cartas assinadas por pastores e pela Igreja Católica que condenam o evento e que há uma insatisfação da sociedade pela vinda de gente de fora”. “Digo e repito: não tenho nada contra o homossexualismo, mas contra eventos que apresentam um certo tipo de conduta que é contra os valores da família e que trazem problemas para a cidade”, declarou o prefeito. “Aconselhei que fizessem em um clube, não ao ar livre, mas eles não vieram a mim abrir diálogo”.

Diante de protestos dos organizadores — representantes dos grupos Arco-Íris e Pluralidade Diversidade (GPD) —, a prefeitura permitiu que um carro do trio elétrico ficasse concentrado por cerca de uma hora na Avenida Brigadeiro Lima e Silva, no Centro de Caxias. Mas a Parada Gay do município transformou-se em uma caminhada sem música e repleta de indignação. O Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, lutou pela liberação do evento.“Estranho essa atitude. Muitos prefeitos não são adeptos do movimento homossexual, mas o autorizam por reconhecerem o direito de manifestação que as pessoas têm”, disse Minc, que completou: “A Lei 3406/2000 proíbe a discriminação e se Zito não permite a Parada Gay, mas autoriza um evento evangélico, por exemplo, pode ser enquadrado na legislação”.

O Secretário Municipal de Segurança Pública, Sérgio Patrizzi, justificou a proibição dizendo que “eventos ao ar livre, que reúnam mais de mil pessoas, necessitam de documentos que não foram apresentados pelos organizadores”. O Superintendente da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Cláudio Nascimento, defendeu: “O ofício foi enviado há dois meses, mas o prefeito não emitiu comunicado oficial sobre a proibição”. Ativistas, que, segundo organizadores, eram 50 mil, estenderam a bandeira do arco-íris, símbolo mundial do orgulho gay. E exclamaram:“Alô, prefeito, que papelão. Você vai ver, na próxima eleição”. A 14ª Parada do Orgulho LGBT do Rio, autorizada por Eduardo Paes, será dia 1º de novembro, em Copacabana. *
*matéria publicada no jornal o dia em 14 de outubro de 2009
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Agora vejam só, ainda há quem realmente não consiga ser político nos dias de hoje. E olha que as dificuldades não são muitas, principalmente quando se tem uma armadura e o título de ‘mito’ da 3ª maior cidade do estado, que possui o 2º maior PIB de todo o Rio e o 15º do Brasil. É claro que eu poderia ficar aqui citando as diversas possibilidades e vantagens de ser gestor de um município como este – fazendo justiça e bom uso do tão querido, e quase, extinto diploma de jornalismo; usarei um pouco de imparcialidade – mas, é preciso lembrar que existem, também, inúmeras dificuldades. Sem querer me aprofundar em méritos tão específicos e, na maioria das vezes, enfadonhos onde as soluções estão cada vez mais claras e saltando aos olhos; preciso destacar a atitude do atual (e reincidente) prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, de impedir a realização da Parada Gay na cidade.
Arbitrária e inconseqüente é o que, sucintamente, penso. Risível e asquerosa é a declaração do tucano ao afirmar que somente 10% dos participantes da passeata eram moradores de Caxias (Gabeira deve concordar comigo, já que soltou uma boa e longa gargalhada ao saber das palavras de seu – até o momento – aliado político). Propícia e coerente foi a comparação que o ex-secretário municipal de Assistência Social do Rio, Marcelo Garcia, fez entre Zito e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, equiparando suas coibições. Inteligente e solidária foi a postura do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, ao lutar ao lado dos homossexuais pela liberação do evento e ao lembrar que os cidadãos têm o direito de manifestação previsto na Lei 3406/2000 que proíbe a discriminação. Minc ainda ressaltou que se Zito não permite a Parada Gay, mas autoriza um evento evangélico pode ser enquadrado na legislação. Irônica e bem bolada foi a melô lançada pelos integrantes do movimento LGBT: “Alô, prefeito, que papelão. Você vai ver, na próxima eleição”. No mínimo, interessante e surpreendente pode ser o resultado nas urnas para o velho tucano de guerra.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

o tom do lugar


'Se traz o amor
E me faz dançar
Esqueço do calor
Na hora do jantar
No universo é tudo em vão
E o bem está comigo enfim então' *

.S, Felipe



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dance tão profundamente que vai esquecer completamente que está dançando e começará a sentir que você é a própria dança

* fragmento da música Saborosa do grupo pernambucano Mombojó

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

guarda, já!


'Não vou a Ipanema,
Não gosto de chuva,
Nem gosto de sol’

.JOBIM, Tom

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Sim, antes de qualquer coisa, preciso deixar claro que estou longe de ser uma boa e típica carioca. É bem verdade que não faço muito, ou quase nenhum, esforço para atender os tais requisitos básicos para obter a legitimidade de ter nascido no Estado da Guanabara. Então: nada de sol, praia e afins (salvo aquelas que, ao invés de areia, têm piso e, no lugar da leve brisa, possuem ar condicionados bem distribuídos). Há quem diga que tenho lá alguma salvação, já que chuva também é algo que não me apetece muito... Preciso esclarecer que o descaso ganha uma amplitude infinitamente maior por conta de um objeto d-e-s-g-r-a-ç-a-d-o chamado guarda-chuva.

De acordo com a confiabilíssima Wikipédia , um guarda-chuva, chamado ainda de sombrinha, é um objeto usado para proteção contra chuvas e consiste em um aramado suportado por uma haste, que sustenta uma tela feita geralmente de material plástico. Da origem do guarda-chuva, os mais antigos que se conhecem foram da Mesopotâmia, há 3400 anos. Há 3.400 anos já existiam artefatos destinados a proteger a cabeça dos reis - contra o sol, não contra a chuva, uma raridade naquele lugar. Assim como os abanos, eram feitos de folhas de palmeiras, plumas e papiro. No Egito, adquiriram significado religioso e na Grécia e em Roma eram tidos como artigo exclusivamente feminino. Só no século XVIII a obstinação do comerciante inglês Jonas Hanway, um apaixonado por guarda-chuvas (versão inglesa do guarda-sol tropical), conseguiria torná-los dignos também de um gentleman. Embora ridicularizado em vida, após a sua morte, em 1786, os ingleses aceitaram sair à rua munidos do acessório nos sempre freqüentes dias de chuvas do país. Os guarda-chuvas, ao contrário dos guarda-sóis, tendem a ser fabricados com materiais leves a fim de que possam ser facilmente transportados, mesmo quando abertos. O tecido protetor é atualmente feito de diversos materiais impermeáveis.

Agora, vejamos: um objeto – inicialmente – feito com folhas de árvores, plumas e papiro; leve e facilmente transportável não pode ser nada eficaz para se proteger, ainda mais de chuva! E convenhamos, até os dias de hoje, merece (e muito) continuar sendo ridicularizado... Bem, eu apoio! Digam o que quiserem, mas estou convicta de que esse trambolho foi uma das invenções mais inúteis e equivocadas que um desocupado cheio de ideias desnecessárias já conseguiu criar.

Vamos aos pontos:

- guarda-chuva e vento, definitivamente, não combinam (quem discorda, por favor, diga como funciona)

- as pontinhas das hastes do guarda-chuva não são nada dinâmicas e, menos ainda, indolores (principalmente quando atingem os olhos)

- usuários de guarda-chuva que transitam com a tranqueira embaixo de marquises deveriam ser tratados como hereges e queimados na fogueira em praça pública (quem foi que disse que justamente ali, embaixo do concreto, vai chover? Tente convencer um ‘filho de uma mãe honrada’ do contrário, tente...)
- os pontos de ônibus ficam, ainda mais, insuportáveis com uma legião de monstros e suas armas letais contra a chuva (e todos os outros habitantes do planeta terra)
- quando você mais precisa ele sempre está furado, quebrado, envergado, quando não, esquecido em algum lugar impossível de lembrar.

Desabafos e esclarecimentos a parte, eu penso de verdade que, não sendo possível exterminá-lo de uma vez por todas; alguma providência séria e urgente precisa ser tomada. Por favor, fabricantes do mundo inteiro: insiram manuais ou guias de boas maneiras nos guarda-chuvas! E, se não for pedir muito, usuários modelos e aptos: ministrem cursos livres e práticos de como utilizar corretamente o apetrecho, para o bem de todos e felicidade geral da nação! Multas e advertências também são ótimas pedidas para evitar eventuais transtornos e desastres.