terça-feira, 22 de dezembro de 2009

mano velho

'Divido-me milhares de vezes em quantas vezes quanto os instantes que decorrem, fragmentária que sou e precários os momentos - só me comprometo com a vida que nasca com o tempo e com ele cresca: só no no tempo há espaço para mim'

LISPECTOR, Clarice


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Ele já se vai e eu mal o toquei
Quanto tempo demora 1 ano?
Aqui jaz curtos 12 meses...
E tanto tempo para me acostumar com ele
Assim vai
Já foi


Até 2010!

* Obra: A persistência da memória, 1931 – SALVADOR DALÍ

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

cabeça-de-vento

'Cabeça-de-vento
Cabeça-de-vento...

Minha mãe zangou e me chamou assim
Eu pensei pensei encasquetei até o fim.
Ser cabeça-de-vento não é ruim,
Vento é movimento, vento é vida para mim

Sem o vento a pipa nunca voa pelo ar
Sem o vento o barco a vela não sai do lugar

Cabeça-de-vento
Cabeça-de-vento...

Minha mãe zangou e me chamou assim
Eu pensei pensei encasquetei até o fim
Ser cabeça-de-vento não é ruim
Vento é movimento vento é vida para mim

É tão bom sentir no rosto o sopro do ventinho
Quando a gente vai de bicicleta ou pedalinho'

BEDRAN, Bia

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O menino cabeça-de-vento tinha uma irmã ou, na verdade, era uma menina. Hoje na cabecinha dela ventou tanto, mas tanto que o vendaval a levou até uma ruazinha não muito longe - apesar da contramão - meio estreita e que fica bem ali na vila da memória, esquina com a saudade. O vento foi tão forte que a pequena (porque ainda gosta de ser chamada assim) se lembrou da primeira vez em que foi chamada de cabeça-de-vento... E então sorriu.

As rajadas de vento a fizeram voltar no tempo e velejar por histórias de pescadores, se reencantar por sereias, escalar os troncos das árvores do faz-de-conta, brincar novamente com bonecas de pano e lata, passear em bicicletas e pedalinhos imaginários, dançar cirandas e até visualizar a cor de ouro do alecrim – mesmo com os olhos marejados. Passada a tempestade, a menina percebeu que bom mesmo era ser assim. E desejou continuar sendo a boa e velha cabeça-de-vento de sempre.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

hello, lovers!


'dizem que nada dura para sempre...
sonhos mudam, trens vão e voltam,
mas a amizade nunca sai de moda'

BUSHNELL, Candace
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Há quem diga que amizade entre mulheres não é verdadeira em hipótese alguma. E ainda existem tolos que acreditam piamente nisso. Eu penso que todo mundo deveria ter um grupinho de amigas (inclusive os super machões que acreditam ser os únicos e absolutos provedores de tudo no universo). Eu mesma tenho um (ou talvez mais) e adoro. É bem verdade que nos encontramos com bem menos freqüência do que gostaríamos... Acho ainda que, apesar da essência peculiarmente feminina, cada grupinho de amigas revela uma particularidade.

O incrível do meu ‘girl power’, por exemplo, é justamente não ter uma diretriz de estilo definida. Religiões distintas (incluindo aí também a falta de qualquer que seja), tribos diferentes, gosto musical que vai do pagode até o eruditismo da música clássica dão o tom perfeito da nossa melodia. Apesar de ter a absoluta certeza de que a diferença também nos une, é nas afinidades que podemos encontrar lembranças épicas e risadas impagáveis.

Eu sempre evitei rótulos, ainda mais quando estava atrelado à irritante ideologia do ‘coisa de mulherzinha’. Acontece que eu acabei descobrindo o seguinte: aquilo que mais tememos pode ser o que mais nos aproxima de quem amamos. A tara por sapatos, a loucura por bolsas e a devoção obscura por doces vão tecendo longas e resistentes linhas que, ao longo do tempo, se entrelaçam por entre os jantares mensais na casa de uma, na corrida frenética pela esteira da academia onde duas ou três se juntam a fim de fazer valer o projeto ‘xô maiô’ neste verão (que, na realidade, não passa de uma tentativa de ficarem um pouco mais próximas), tentam aliviar um pouco a saudade e o tempo perdido de quem ficou mais de cinco anos sem se ver ou sequer trocar algumas palavras; e ilumina ainda mais o sorriso das que torceram incessantemente pra que esta insanidade tivesse logo fim, dos telefonemas que rendem longas conversas sobre tudo, horas de conversas virtuais sobre nada ou ainda um simples recado que servirá para escolher o menu do reencontro.

As sugestões são: comemorar a compra da primeira casa dela, vibrar com o anúncio da data do casamento, boas gargalhadas e – pra não perder o costume – fazer planos onde todas estejamos incluídas.

Até breve e bom apetite!